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Análise do Estudo do Banco Central sobre o Mercado de Bets no Brasil
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Análise do Estudo do Banco Central sobre o Mercado de Bets no Brasil

Veja como o perfil dos apostadores é analisado e quais os impactos nas operações de apostas online

Escrito por Fabio Hermano

Publicado em (atualizado em )

Foto: Análise do Estudo do Banco Central sobre o Mercado de Bets no Brasil

Nos últimos dias, um estudo do Banco Central sobre o mercado de bets no Brasil causou grande repercussão. A pesquisa, publicada na nota técnica BCB número 513/2024, traça um perfil dos apostadores no país e aborda a relação desse mercado com transferências bancárias, incluindo o uso do Bolsa Família. Embora o relatório tenha gerado intensos debates, suas conclusões foram questionadas por especialistas do setor, principalmente em relação à metodologia utilizada.

O estudo se propõe a fazer uma análise técnica do mercado de bets online e do comportamento dos apostadores. No entanto, algumas críticas surgiram quanto à sua profundidade e às fontes de dados utilizadas. A nota técnica contém apenas cinco páginas e aborda dois temas distintos: o mercado em si e o perfil dos jogadores.

O Papel do Banco Central no Mercado de Bets

Uma das primeiras questões levantadas é o papel do Banco Central nesse tipo de análise. A instituição não tem atuação direta no mercado de bets, mas fiscaliza as instituições financeiras que prestam serviços para essas empresas. Esse distanciamento gera dúvidas sobre a precisão e o escopo da análise.

O estudo menciona que a pesquisa se baseia em estimativas, uma vez que o Banco Central não teve acesso à totalidade dos dados. Isso ocorre, segundo o relatório, porque muitas empresas de bets operam sob nomes diferentes dos divulgados na mídia e algumas sequer atuam exclusivamente no setor de apostas.

Falta de Especificidade nas Fontes de Dados

Um ponto crucial para a análise foi a forma como o Banco Central obteve as informações. O estudo menciona que as fontes de dados foram retiradas da internet, mas não especifica exatamente de quais sites ou relatórios. Essa ausência de clareza sobre as origens dos dados compromete a confiança nas conclusões do estudo.

O relatório também destaca que as transferências para empresas de bets foram identificadas a partir de um método que combina citações online com filtros que o Banco Central considerou característicos de apostas. Esses filtros incluem o número de pessoas que fazem transferências, o volume médio das transações e os horários em que as operações ocorrem.

No entanto, o relatório não detalha como esses filtros foram validados ou se houve consulta ao Ministério da Fazenda, por exemplo, para garantir a precisão da metodologia.

Análise do Perfil dos Apostadores

Um dos pontos mais discutidos do estudo é a análise do perfil dos apostadores. Segundo o Banco Central, as transferências para as empresas de bets aumentam conforme a idade dos jogadores. Para os mais jovens, o valor médio das transações gira em torno de R$ 100 por mês, enquanto, para os mais velhos, esse valor pode ultrapassar R$ 3 mil.

Além disso, o estudo aponta que uma parte significativa dos valores transferidos para as casas de apostas online provém de beneficiários do Bolsa Família. Em agosto de 2024, por exemplo, cerca de 5 milhões de pessoas que recebem o auxílio teriam transferido R$ 3 bilhões para empresas de bets. A relação entre os dados de transferência e o perfil financeiro dos apostadores, porém, não é explorada com profundidade no estudo.

Essa conclusão gerou polêmica, já que o relatório não menciona dados comparativos de renda nem estabelece uma correlação clara entre o valor apostado e o comprometimento financeiro das famílias de baixa renda.

Transferências e Apostas: Onde Está a Correlação?

Outro ponto que levanta questionamentos é a relação entre transferências bancárias e o valor efetivamente apostado. O Banco Central estima que 15% das quantias transferidas para as casas de *bets* são retidas pelas empresas, o que seria um indicativo do quanto elas lucram. No entanto, especialistas do setor apontam que a retenção média gira entre 8% e 10%, sugerindo que os números do estudo podem estar inflacionados.

Além disso, a pesquisa não faz distinção entre depósitos feitos nas contas das casas de apostas e o valor efetivamente utilizado para apostas. Isso significa que parte do dinheiro transferido pode permanecer na conta gráfica do usuário e não ser utilizado de imediato, o que compromete as conclusões sobre o montante total apostado.

Comparações com o Setor de Loterias

Outro ponto que poderia ter sido abordado com mais clareza é a comparação com o setor de loterias. O estudo menciona que a análise das transações de bets foi feita com base no sistema de transferências Pix, mas não considera outros métodos de pagamento, como dinheiro ou cartão de crédito, amplamente utilizados nas loterias.

A Caixa Econômica Federal, responsável pelas loterias no Brasil, permite que os usuários façam apostas tanto com dinheiro quanto com cartão de crédito. No entanto, as transações com dinheiro são proibidas no mercado de *bets* online, o que dificulta uma comparação direta entre os dois setores.

Essa ausência de dados sobre outros métodos de pagamento pode subestimar o volume real de arrecadação nas loterias e, ao mesmo tempo, gerar uma percepção distorcida do mercado de *bets*.

O Efeito da Sazonalidade no Mercado de Bets

Outro aspecto importante é a questão da sazonalidade no mercado de bets. O estudo do Banco Central se baseia em dados de agosto de 2024, um mês em que o mercado estava em alta devido à regulamentação iminente do setor no Brasil. No entanto, o relatório não faz uma média anual das operações, o que poderia ajudar a evitar conclusões influenciadas por picos sazonais.

Especialistas afirmam que agosto foi um mês atípico para o mercado de bets, já que as discussões sobre a regulamentação e a grande cobertura da mídia geraram um aumento no número de apostadores. Sem uma análise mais ampla ao longo de outros meses, o estudo pode estar capturando apenas um momento específico e não refletindo o comportamento do mercado como um todo.

Críticas à Metodologia do Banco Central

Ao longo do estudo, a metodologia utilizada pelo Banco Central foi um dos principais pontos de crítica. A ausência de uma base teórica definida e a falta de transparência sobre as fontes de dados e os filtros utilizados levantam dúvidas sobre a consistência das conclusões. Especialistas defendem que uma pesquisa mais detalhada, com a inclusão de dados de outros meses e uma análise mais profunda dos perfis de renda, seria necessária para gerar resultados mais precisos.

A falta de dados sobre a renda dos apostadores, por exemplo, impede uma análise mais clara sobre o impacto das apostas em diferentes classes sociais. Além disso, a ausência de uma correlação entre as transferências feitas para as empresas e o valor efetivamente apostado compromete a precisão das estimativas.

Impactos do Estudo no Mercado de Apostas

Apesar das críticas, o estudo do Banco Central marca um importante passo na tentativa de entender o mercado de bets no Brasil. O setor de apostas online tem crescido de forma significativa nos últimos anos, especialmente com a expansão das plataformas digitais e a popularização das apostas esportivas.

No entanto, a falta de regulamentação clara e a ausência de um sistema de fiscalização robusto continuam sendo desafios para o mercado. O estudo do Banco Central reforça a necessidade de uma maior transparência e de um monitoramento mais preciso das atividades das empresas de bets no Brasil.

A expectativa é que, com a regulamentação iminente, o mercado de bets passe a ser mais controlado e que novas pesquisas com dados mais completos e detalhados possam ser realizadas para oferecer uma visão mais clara desse setor em crescimento.

Conclusão

O estudo do Banco Central sobre o mercado de bets no Brasil gerou discussões importantes sobre o funcionamento desse setor e o perfil dos apostadores. No entanto, a falta de clareza na metodologia e a ausência de dados mais específicos comprometem a validade de algumas conclusões. Com a regulamentação do setor em andamento, espera-se que novos estudos tragam análises mais aprofundadas e precisas, ajudando a esclarecer os impactos desse mercado na economia brasileira.

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